A solidão é necessária, mas não agora.

Eu sempre disse que preferia viver sozinha. Que me encaixo melhor no silêncio calmo que o vazio traz, e que me sinto muito bem na presença ilustre e solitária do meu ego.

Pois bem, tudo mentira.

Não sei mais ser sozinha. Não sei mais andar sem companhia na madrugada ou passar noites de sexta em casa. Não sei mais ficar em casa. Não sei mais ouvir músicas no quarto sem compartilhar com ninguém, ou baixar filmes revolucionários e não enviar links perdidos durante o dia. Não há mais como viver sem criar uma empresa por semana, não há! Talvez realmente tudo seja uma fase, e eu já passei a parte melancolicamente juvenil da minha vida e esteja deixando o vento bater pelas asas que eu nem sabia que possuía, mas veja: não quero que isso mude. É melhor assim, com vocês. Com desculpas estúpidas, caminhos esbarrados, tempos errados, cigarros escondidos, tequilas desperdiçadas, aniversários no bar, filosofias de lua cheia e amores perdidos. Vai ver eu sou mesmo covarde e não me atrevo a tentar conviver comigo mesma em paz, sem alguém pra descarregar esse turbilhão de pensamentos que bombeiam minha alma e fervem meu peito, mas… e daí?

Com certeza um dos melhores lugares do mundo ainda é a grama no quintal de casa, com vista para as estrelas e o barulho do nada. Mas quem disse que o mundo não é um lugar pra se apreciar sozinho, estava certo. O maior dos pecados é a solidão, porque diante dela, todos os outros pecados se multiplicam. É preciso subtrair velhas culpas para se somar alguns palavrões e outros tantos desejos. Aí, garotão, quem sabe sobrarão alguns sorrisos para dividir…

Eu fico.

Algumas pessoas agem como se nunca tivessem nada a perder.

Outras fogem, buscam um colo de mãe pra se esconder.

Mas algumas pessoas ficam, lutam, devoram e são devoradas.

Devoradas por si, pelo vazio, pelo incompleto,

pela simples existência.