A vida é uma coisa complicada.
É muito mais sobre partidas do que grandes histórias. E a gente vai levando, fingindo não sentir no coração o buraco de quem já foi um amor. De quem já foi um pai, um filho. De quem hoje é um nome em uma pedra lapidada.
Agora, perceba a paradoxalidade: vive-se de saudade e por saudade que se cria, e nem por isso a vida é bem vista. Não é justo a terra cobrir memórias de alguém que já representou todo um mundo; de alguém que revolucionou sistemas, escreveu poemas, ou lhe cobriu com cobertor antes de dormir. Também não se pode entender como é possível continuar a viver com tamanha dor nos corações: dor por mim, por você, e por todos que aqui ainda fingem estar vivendo. E essa mesma existência, hoje, mecanizada por sistemas tão bem implementados acima do espírito humano primitivo, é marginalizada como fraqueza. Você tem 3 dias de lutos, veja só, precisa de mais? Por favor, não se manifesta. Não ouse deixar que outros percebam que você não é feito de parafusos cromados. Não mexa com o sistema.
Se os humanos vivessem de saudade, talvez essa, então, seria a existência mais bonita que existe. Há mais humanidade na derrota do que na bravura de continuar vivendo.