sobre a vida

A vida é uma coisa complicada.

É muito mais sobre partidas do que grandes histórias. E a gente vai levando, fingindo não sentir no coração o buraco de quem já foi um amor. De quem já foi um pai, um filho. De quem hoje é um nome em uma pedra lapidada.

Agora, perceba a paradoxalidade: vive-se de saudade e por saudade que se cria, e nem por isso a vida é bem vista. Não é justo a terra cobrir memórias de alguém que já representou todo um mundo; de alguém que revolucionou sistemas, escreveu poemas, ou lhe cobriu com cobertor antes de dormir. Também não se pode entender como é possível continuar a viver com tamanha dor nos corações: dor por mim, por você, e por todos que aqui ainda fingem estar vivendo. E essa mesma existência, hoje, mecanizada por sistemas tão bem implementados acima do espírito humano primitivo, é marginalizada como fraqueza. Você tem 3 dias de lutos, veja só, precisa de mais? Por favor, não se manifesta. Não ouse deixar que outros percebam que você não é feito de parafusos cromados. Não mexa com o sistema.

Se os humanos vivessem de saudade, talvez essa, então, seria a existência mais bonita que existe. Há mais humanidade na derrota do que na bravura de continuar vivendo.

esquece, garota,

essa bobiça de amar.

põe tua vaidade pra funcionar,

e compre alguns cigarros baratos,

para trocar por carona no seu caminho de volta.

você precisa voltar.

i miss u

Eu não vou mentir, nem sempre a saudade é sua.

Meu coração vagabundo vive a enfeitar cartas pra várias pessoas e vários sorrisos, e minha memória é seletivamente cruel: hoje uma música é você, amanhã um texto é outra. Mas, o que eu posso fazer? Tudo bem, eu te fiz mal, mereço a distância preventiva do seu coração. Mas precisava não mandar notícias? Precisa jogar as roupas pela varanda?

Toda história se desmancha em ligações não feitas no domingo a noite e lembranças frescas nas próximas sextas. Saudade é saudade porque rima com maldade.

E hoje, minha saudade é você.

anaegidio

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Tenho mais fé no café do que no amor.

tenho mais fé no café do que no amor

 

não é pra rimar nem pra ser social

é que uma dose de café no início do dia

é menos perturbador que ver ela virando a esquina

 

não é que eu to fazendo pose

mas nem todo mundo é forte

pra aguentar dois amores

 

na vida não é qualquer um que pode

enlouquecer de manhã

entre a torrada e a margarina

entre o jornal e jogatina

 

por isso tenho mais fé no café

porque no amor

não há mais reza que preze

não há mais santo que coopere

pra essa rima doída

sair da minha rotina

 

e enquanto faço prosa

tenho mais fé no vazio que no bolero

esperando o amor bater a porta

matando o tempo no martelo

 

mais café pra fé voltar

eu escoo a esperança pela pia

jurando desamor pra essa fé não faltar

troco o refil dessa batida poesia

 

 

(anaegidio)

Não devia ser tão difícil dizer tchau.

Talvez a curva nos mostre o mesmo final

Ou talvez a nossa rua nunca mais se encontre

O que é um encontro se não um adeus

Que foi esquecido?

 

Mas esse tchau eu não queria ter dito

Se pudesse escolher

Você ainda estaria comigo

 

Mesmo a sua agora rua

Não tendo mais o mesmo mar

E de todas as loucuras

Você escolheu apenas amar

Eu ainda vou ficar na cidade da saudade

Onde todos que vem não pretendem ficar

 

Mas esse tchau eu não queria ter dito

Se pudesse escolher

Você ainda estaria comigo

 

Não devia ser tão difícil dizer tchau. Se tchau não fosse adeus. Se nosso tchau fosse até amanhã, invés de boa sorte.

sai pra lá, verão

sai pra lá, verão

não vem encher meu coração

da tua falsa promessa

de sorrisos, taças e festas

 

sai pra lá, verão

que eu conheço a tua peça

traz no samba a ilusão

traz na rima a controvérsia

 

sai pra lá, me deixe aqui

na solidão, aquietado

de paz na mente, sorte no tato

que ninguém vive de amor

ninguém vive apaixonado

 

sai pra lá, verão

o dia tá quietinho

até escuto o passarinho

vindo me avisar

verei mais mar com violão

e menos amor no coração

e é assim que o meu verão será.

let it be

De vez em quando eu penso nela.

De vez em quando a imagem da risada alta invade minha cabeça, demonstrando algum tipo de saudade pelas noites frias que já não são mais reais. De vez em quando o perfume, ora doce ora veneno, me encontra no meio da rua e eu olho pros lados, só pra reafirmar que ela não está mais ali. Não é romântico e tampouco é bonito, só é o desenrolar do jogo. Diversas pessoas passaram por mim e outras eu nunca chegarei a conhecer, mas de todos os dias que me riscam no calendário, de vez em quando tenho vontade de parar de pensar nela e a ver. E contar meus dias, desabafar novas piras. Vontade de ouvir seus novos problemas e os novos corações que ela roubou.

Trocar outros livros. Trocar alguns cigarros.

De vez em quando eu penso nela, assim como Sal pensou em Dean. Assim como diversos outros pensaram, olhando pelo retrovisor do carro, o quão estranho é perder de vista alguém que se ama. Alguém que tem tanto de você. Novas canções e novos poemas virão e se você resolver voltar e não me achar, é porque na verdade eu vou estar ali, na outra grande rota mãe, com um mapa nas mãos, te esperando. Mas a estrada é grande demais e as rodas não param de se sujar de asfalto… Assim como penso nela, penso também que ela não mais existe, e continuo a rodar.

Espero que diferente de Dean, você encontre a pira que te guia. E, por favor, nunca a perca.

01: 27 AM

“Você apaga ela como se assim pudesse apagar tudo que a gente já escreveu, viveu e pensou. Você está errada, mas me deixa feliz ver o quanto você ainda se importa.”

Porque eu me importo também. E sinto saudades, todos os dias. Se for pra apagar algo, por favor, apague isso, pois eu já não vejo outro caminho.