Eu sou estranha.

O que você espera de mim, além do que vê? Eu te mostrei aquele full house fraco logo de saída e já disse que não conseguiria mais do que isso: um jogo baixo. Não conseguiria ser a pessoa que você imagina ver em mim. Te perguntei se alguma coisa no meio disso tudo fazia sentido, e se a intensidade do seu olhar era do tamanho do tempo que nós estávamos perdendo. Você disse sim. Você disse sim para tudo.
Mas você não escutou quando eu disse que não sou inteira, não sou nem sequer uma. Você não acreditou quando eu disse que a indecisão é meu pior defeito, e que a confusão que dança em meu peito é contínua e não segue linhas. Vai e volta, num ritmo incansável, me tomando a insanidade. Me tomando o ar. Me tomando meu tempo. Eu disse: cuidado. Sei que você está acostumada a fazer sofrer, e talvez a ajudar as pessoas, mas deve prestar atenção que não é a única que consegue fazer isso aqui. Por isso eu disse, e continuo dizendo: cuidado. Não se jogue, não aposte. Não tenho nada a oferecer a ninguém, a não ser alguma noite perdida de bebidas quentes e risadas sem sentido. E então, quando o dia finalmente amanhecer e nós estivermos vendo o sol beijar o mar naquele final de praia, você vai olhar para mim esperando ver a pessoa que esteve do seu lado nas últimas horas, e ela não vai estar lá. Talvez ela nunca volte.

O tempo que se leva para entender como isso funciona ou funcionaria é longo demais, e no momento, eu não tenho nada a perder, pra continuar pensando em algo racional para lhe explicar. Eu simplesmente não quero ter que explicar. Esse é o risco, e essa é sua chance de fugir. E eu, se fosse você, desistiria da rodada e polparia algumas fichas para o próximo blefe.

Mas, bem, o risco é seu…